Você já ouviu falar em mães pâncreas? Esse termo, ainda pouco conhecido fora do universo do diabetes tipo 1 (DM1), representa um dos papéis mais desafiadores e, ao mesmo tempo, mais cheios de amor que uma mãe pode assumir: ser o pâncreas do próprio filho.
O diabetes tipo 1 é uma condição autoimune, sem cura, em que o corpo deixa de produzir insulina — o hormônio responsável por controlar o açúcar no sangue. Quando uma criança é diagnosticada com DM1, o impacto vai muito além das agulhas, dos monitores e da contagem de carboidratos. Ele muda toda a rotina da família. E, muitas vezes, é a mãe quem assume esse cuidado integral.
Ser mãe de uma criança com DM1 significa aprender a interpretar glicemias, a entender sobre insulina basal e insulina de correção, a calcular quantidade de carboidratos de cada refeição, a prever hipoglicemias, a lidar com picos de glicose e responder rapidamente a situações que exigem atenção imediata.
Um dos aspectos mais importantes desse cuidado é garantir a segurança física e emocional da criança. Para isso, a mãe se dedica intensamente: acorda várias vezes durante a madrugada para verificar os níveis de glicose, prepara o lanche escolar com orientações detalhadas, conversa com professores e funcionários para alinhar os cuidados e ainda planeja cada viagem com atenção redobrada — sempre tentando estar um passo à frente das variações glicêmicas.
Essas mães carregam no olhar a força de quem enfrenta o medo todos os dias, mas não deixa que ele paralise o amor, pois a cada aplicação de insulina, a cada gotinha de sangue no monitor, a cada crise evitada, elas reafirmam o seu compromisso com a vida dos filhos. Elas trabalham, literalmente, como o pâncreas fora do corpo — até que a criança cresça e, aos poucos, possa assumir esse papel com mais autonomia.
Em resumo, ser mãe pâncreas é desempenhar múltiplos papéis — médica, nutricionista, enfermeira, psicóloga e, acima de tudo, mãe — em uma rotina que exige vigilância constante, sensibilidade e coragem.
Por isso, é fundamental que a sociedade enxergue essas famílias com mais empatia e responsabilidade. Falar sobre o DM1 com seriedade, ampliar o acesso a tecnologias de cuidado e garantir políticas públicas que acolham e apoiem mães, pais e cuidadores não é apenas um dever coletivo — é um ato de justiça e humanidade.